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Nara Leão...

Nara Leão...

terça-feira, 17 de julho de 2012


Palavras Ao Vento


Ando por aí querendo te encontrar
Em cada esquina paro em cada olhar
Deixo a tristeza e trago a esperança em seu lugar
Que o nosso amor pra sempre viva
Minha dádiva
Quero poder jurar que essa paixão jamais será
Palavras apenas
Palavras pequenas
Palavras
Ando por aí querendo te encontrar
Em cada esquina paro em cada olhar
Deixo a tristeza e trago a esperança em seu lugar
Que o nosso amor pra sempre viva
Minha dádiva
Quero poder jurar que essa paixão jamais será
Palavras apenas
Palavras pequenas
Palavras, momento
Palavras, palavras
Palavras, palavras
Palavras ao vento
Ando por aí querendo te encontrar
Em cada esquina paro em cada olhar
Deixo a tristeza e trago a esperança em seu lugar
Que o nosso amor pra sempre viva
Minha dádiva
Quero poder jurar que essa paixão jamais será
Palavras apenas
Palavras pequenas
Palavras, momento
Palavras, palavras
Palavras, palavras
Palavras ao vento
Palavras apenas
Apenas palavras pequenas
Palavras


Marisa Monte Moraes Moreira 

domingo, 8 de julho de 2012

Inspiração

Inspiração


Ela me inspira, cultiva em mim um variado número de sensações, que não posso dizer que são novas, isso não. Mas, com ela eu faço de conta que nunca as senti antes.
Ela demonstra interesse por meu costume de brincar com as peças do tabuleiro de xadrez que foi do meu pai, embora eu não jogue xadrez, nem meu pai tampouco jogava.
Canta no banheiro com uma voz que não classificaria como das mais bonitas que já ouvi, porém me inspira: deve ser a paixão.
Ontem à noite fomos jantar fora e não consegui parar de prestar atenção no seu cuidado em não sujar os dentes com a comida, devia ser para me impressionar. Mas eu já estava impressionado e pretendo passar um longo tempo jantando, almoçando e fazendo outras coisas relacionadas à comida com ela. Será que ela ainda não percebeu?
Chegamos em casa às 23:45 pois de propósito apressamos o término do jantar, tínhamos coisas mais interessantes a fazer do que ficar comendo comidinha japonesa.
Foi a primeira vez que a vi nua: ela era linda! Claro que tinha algumas imperfeições, mas eu também não sou de uma beleza descomunal.Amamo-nos a noite toda, derramamos suor, fizemos coisas sujas e limpas e pela manhã, quando vi seus olhos dormindo, eu pensei comigo: É ela!

Tempo, tempo, tempo...














Nara Leão



Narinha...nesse ano em que você completaria setenta primaveras  fico imaginado o que você estaria cantando ou fazendo nesses tempos tão conturbados que vivemos. Vejamos...
Será que estaria fazendo participação no show da Nana Caymmi que também está fazendo setenta anos?
Bem, a participação no DVD de Chitãozinho & Xororó é certa.
Vibrando com o disco novo de Gal?
Ou lançaria o disco: Nara cinquenta anos depois?
São muitas possibilidades, mas a mais importante de todas não vai existir. Um show seu para que eu possa ouvir a sua voz pura, simples, mas com uma força imensa de comunicação e inquietação com os problemas do mundo. 
Nara você fez tanta coisa: Valorizou os sambistas do morro, trouxe de volta Carmen Miranda ao nosso cancioneiro, Ajudou a criar a Bossa Nova, fez parte da Tropicália, lançou Maria Bethânia, Fagner, Chico Buarque, Edu Lobo entre outros que não lembro. Lutou contra os militares, conta a ignorância a falta de educação de um país que ainda não sabe a força que tem.
Sem falar de suas criações inesquecíveis, só para citar: Vento de maio, carcará, marcha da quarta-feira de cinzas, com açúcar com afeto, insensatez, a banda, coisas do mundo minha nega, deixa, pranto de poeta etc. Tanta coisa tão bonita você cantou pra gente! Obrigado Nara. 
Sinto muito por muitas pessoas dessa geração não te conhecerem nem nunca terem escutado uma música sua, sinto muito mesmo (eles não sabem o que perdem) Também sinto muito que a sua luta pela valorização de nossa música tenha sido em vão e termos que nos contentar com tanta música ruim que agride nosso ouvido e nosso cérebro nesse fim dos tempos em que vivemos.
Mas a sua luz sempre vai brilhar para os que amam a música boa, a verdade e a luta por um ideal que foi a coisa que você perseguiu em toda a sua vida. Salve Narina feliz aniversário.

sexta-feira, 6 de julho de 2012

Festo-do-resto-festa-manifesto-festa-do-festo




Modo-modo-merdo-modo-moderno

Você é moderno?

Hélio – Gás - Belo – Axé – Lusitana – Pop – Oiticica – Cica
Tomate-seco – Pop Parangoleico – Parangolés Voadores
Computadores Baladeiros – Brita –Britney – Chá – Fármaco
Maria Joana – Maria das Graças – Maria Bethânia
Você tem bom gosto?

Bom gosto demais tolhe a criatividade...

Eu quero ser antigo!
Eu quero comer os velhos Baianos;
Eu quero ser Dalva de Oliveira;
Eu quero ser Luiz Gonzaga;
Eu quero falar besteira.
Eu quero ver João Gilberto nu!
Eu quero ouvir Duprat.

Prato;
Edith do prato, pasto, pasta, panamerica.
Basta Brasil;
Basta Brasil;
Basta Brasil;
Brasil.

Não morra na mão dos Ianques (vazios)

Cláudio de Moraes

quinta-feira, 5 de julho de 2012

The cockroach song





 The cockroach song


Numa noite de festa
Fumei, bebi à beça
E eu...não beijei  ninguém

Palavras submersas
Ninguém me olhou na festa
E pra casa sozinho eu voltei

Quando cheguei em casa
Matei uma barata
E logo arrependido eu fiquei

Pois soube que a barata
Coitada era casada
E órfãos seus filhinhos eu deixei

O marido da barata
Não sustentava a casa
Foi outra chinelada que eu dei

Depois eu descobri
Por que eu era infeliz
A família da barata dizimei

( E os filhinhos morreram de fome...uhi mamãe )

Cláudio de Moraes

Hebe Camargo, Brasil, doença e modernismo acéfalo.





Em qualquer lugar do mundo uma pessoa com cinquenta e sete anos de televisão seria ovacionada e coberta de homenagens, mas Hebe não! Não se engane; as honrarias e homenagens que Hebe recebe, vêm de parte da imprensa que é considerada menor e da classe artística que patina, digamos em um nível popular.
Os intelectuais que, com razão, Dercy Gonçalves chamava de “o câncer do Brasil” e os modernóides de plantão a consideram: velha, ridícula, brega...! Mas, por quê? Hebe representa o Brasil, um Brasil ingênuo, que senta no sofá há mais de cinquenta anos para acompanhar os seus rompantes de indignação com os desmandos do nosso país e esse povo se identifica com ela. Às pessoas adoram seus ataques de tietagem com ídolos populares e a-m-a-m  seu estilo brega, colorido e Tropicalista! E o que falar de suas joias então?  
Mas, Hebe teve bons momentos na TV. Vamos a eles: Protagonizou o primeiro vídeo clipe  brasileiro  ao lado do falecido Ivon Curi, entrevistou Neil Armstrong e viveu momentos emblemáticos da história da nossa TV  quando num arroubo de ousadia fez um programa inteiro sobre travestis! Coisa que no final da década de 1980, dava o que falar (até cadeia) e chocou a sociedade, tendo o programa sua fita apreendida pelo então, ainda ativo departamento de censura (o programa foi em 1987).
Também a homenagem aos oitenta anos de Dercy Gonçalves teve a fita apreendida devido a um seio de fora da sempre ousada veterana atriz.
 Hebe teve atos que foram pouco comentados e que comovem: doou sangue a Dercy Gonçalves quando a mesma se operou de câncer! Dercy disse uma vez “Hebe não precisava fazer isso, mas fez”.
Hebe hoje está doente e demonstra uma dignidade absolutamente admirável no trato com sua enfermidade e sua fé merece respeito do que creem e que não creem, por isso termino esse rascunho pífio desejando a você Hebe... Muita luz e muita força e obrigado por seus anos de dedicação a entreter o nosso alegre, mas triste povo brasileiro. 


Cláudio de Moraes

Édipo Rei


     Édipo Rei, escrita por Sófocles em data desconhecida é uma das primeiras tragédias que se tem notícia.
     A história do filho que mata o pai e casa-se com a própria mãe já foi recontada inúmeras vezes, até em uma versão tele-novela, exibida pela Rede Globo de televisão em 1987.
    Enveredando pelo caminho da psicologia a história já faz parte do inconsciente coletivo e está enraizada em todos nós.
    O ser humano é trágico e autodestrutivo, sendo assim, a história cativa o publico logo no seu começo, pois, também trata de outra constante na vida humana, a previsão do futuro, tão bem representado pelo mito do Oráculo.
 Outro ponto a ser destacado é a relação mãe e filho que resultou numa das mais conhecidas interpretações da psicanálise: O complexo de Édipo, que de tão falado, repetido e esmiuçado já virou quase um senso comum.
    Ao ler a obra fiquei frente a frente com a fragilidade do ser humano e a necessidade que temos de enfatizar a nossa mortalidade e incapacidade de nos rebelarmos contra o implacável destino. 
    Alguns filósofos da Grécia antiga defendiam que não dá para escapar do que estiver reservado para você. Eram os adeptos do estoicismo, uma das correntes filosóficas mais influentes da Antiguidade. De acordo com os estóicos, o futuro é tão inalterável quanto o passado. Zero de livre-arbítrio.
Uns acreditam na existência do mesmo, outros usam a religião como escudo, mas, o que  diz a ciência? Nosso cérebro é programado para encontrar sentido em tudo. Mas, para mim, permaneceu a dúvida. O destino existe ou não? .

Meu nome é...



Meu nome é Cláudio de Moraes, Moraes com “e” não com “i” mas, como houve um erro em meu registro ficou assim mesmo, escrito errado, mas tudo bem. Nasci na Paraíba em 1980, mas creio que há algum erro em minha certidão de nascimento, porém essa é outra história. Falando de mim: Sou uma pessoa bem simples. Sou ciclotímico e às vezes não tenho a menor paciência com nada nem com ninguém, não gosto de pessoas que abusam da boa vontade das outras e de pessoas que também não sabem se colocar em seu lugar. Detesto do fundo do meu coração a falta de educação tão em voga hoje em dia, também não suporto crueldade, nem (a mais clássica de todas) falsidade. Odeio quem joga papel no chão, quem fala alto, gritos, deselegância etc., mas, tem dias que sou capaz de fazer todas essas coisas que elenquei que não gosto. Tenho algumas qualidades: sou muito fiel – em todos os sentidos - prezo muito minhas amizades e acredito no ditado “Melhor um amigo na praça do que dinheiro no banco”. Sou bem humorado, mas têm dias que nem eu me aguento (o lance da personalidade ciclotímica). Esse é meu terceiro curso universitário. Já fiz psicologia, fiz até o 8º período e não terminei (o motivo não caberia no texto). Fiz jornalismo, esse sim conclui e agora estou fazendo artes. Muita gente me pergunta por que desisti do jornalismo para ser professor e, sinceramente não tenho a resposta. Apenas acho que me identifiquei mais com a lousa do que com o microfone. Defeitos: Sou um pouco chato em determinados momentos, não tenho muita paciência com gente lenta (apresar de ser lento também) tenho uma preguiça de dar dó, em alguns momentos tenho dificuldade de expor minha opinião, sou preconceituoso (mas, quem não é). É aquela história, quem diz que é não é, e quem diz que não é é. E de uns tempos para cá acho que a humanidade mais não presta do que presta (eu inclusive). Qualidades: sou uma pessoa amiga de meus amigos, as pessoas que não tenho afinidade procuro ignorar a existência delas no globo - geralmente consigo -. Tento não falar mal do próximo - geralmente também consigo -, modéstia a parte sei cozinhar bem e tenho um excelente gosto musical, mas têm dias que não resisto a uma música bem brega- aquela!- Sou um bom amigo e costumo só dar minha opinião quando perguntado, ou seja, sou um bom ouvinte. Depois que cheguei aos trinta, gosto de programas mais leves como: Tomar um vinho com amigos, fazer um som na casa de amigos, comer com amigos, beber com amigos (isso mesmo, só com amigos). Então ou eu fico amigo ou não fico nada. No começo sou um pouco fechado, mas quando pego intimidade... se segura. Sou extremamente tímido e isso me prejudica muito, pois pareço mais chato do que realmente eu sou, apesar de ser meio chato mesmo, porém quando quebro minha resistência de bom escorpiano, fico dado, dado. Sou escorpiano, só que sem essa de signos e características astrológicas, porém, dou à cara a tapa... Sou muito ciumento, com tudo e com todos... Amigos, amores, cachorros, gatos, livros, discos, alfinetes etc. Gosto de música componho e hoje, vejo que meu professor de violão estava certo “Se você parar de estudar vai ficar preso e não vai evoluir no instrumento” Estou correndo atrás do tempo perdido. Acredito no amor, só que não mais no amor eterno e acho que, nos dias de hoje em que reina a devassidão a máxima é válida “Quem tem dois tem um, quem tem um não tem nenhum” vejo a solidão como uma coisa muito positiva, pois é importantíssima para por a cabeça em dia, eu mesmo preciso ficar só várias horas do dia para recuperar meu equilíbrio e diferente de muita gente, adoro minha companhia. Acredito que essa geração é uma geração perdida, mas tenho esperança que a próxima vai ser bem melhor e eles vão aprender muito com nossos erros. Tenho a péssima mania de só falar do que conheço. Detesto vulgaridade, mas sei que cada um tem as suas, eu inclusive, mas acho que elas deveriam ficar restritas ao privado e não serem expostas como hoje está na moda. Acho sofrível devassar a vida (alheia e a própria) em Redes Sociais e dizer todos os detalhes de como foi seu dia essas coisas, mas são os novos tempos e tenho que me adaptar. Tento não julgar as pessoas, só que hoje em dia com tanta coisa errada, fica difícil. Abomino a ignorância, principalmente a por opção e no tocante as religiões fico impressionadíssimo como a maioria diz que é de tal credo e não segue nada daquilo que é dito no culto ou na missa, inclusive creio que a missa ou o culto, enfim o que sejam viraram eventos de inclusão social (estive nos dois) e não servem mais ao que se destinam (olha eu ai julgando). Sendo assim, acredito mais em religiosidade do que em religião. Enfim esse é um pouco de mim, claro que omiti muitas coisas, mas o que está aqui é verdadeiro.

A Condição Humana





ARENDT faz um paralelo interessante entre atividade e ambiente humanos mostrando que no mundo a presença do ser humano é notada em todos os aspectos- até nos mais escondidos rincões da sociedade.
Pois, sendo assim o trabalho é uma atividade essencialmente ligada a um grupo. O ser humano poderia até trabalhar só, mas isso o descaracteriza em sua humanidade.  Sendo assim torna-se pertinente a frase de Tomás de Aquino “o homem é, por (natureza, político, isto é, social)
Sendo interessante perceber que Aristóteles e Platão percebiam a e comparavam a socialização humana como um comportamento compatível com a vida dos animais, ou seja: não era fundamentalmente humana.
Esse pensamento muda quando do advento das cidades - estado o que faz como que o homem passe a ter uma espécie de segunda vida. A vida privada e o seu bios politikos.
Aristóteles considerava fundamentais na bios politikos: a ação (práxis) e o discurso (lexis) na esfera dos negócios humanos.
Os seja, mais importante que as palavras, seriam as palavras certas na hora certa, isso sim é o que da força ao discurso. Sendo assim o pensamento é secundário para o mesmo e nos remete aos sofistas, tema já estudado em nossos encontros. Então encontrando a palavra certa e estando ela imbuída da ação, a ação fica cada vez mais separada do discurso que passou de uma forma de resposta para uma forma de convencimento.
Vemos então que a violência que antes era usada para oprimir as pessoas (método pré- político) passou a ser substituída pelo discurso (método de persuasão). 
O que nos remete aos dias atuais em que o uso da “palavra errada” (discurso) para promover todo tipo de coisa: política, religião etc. se tornou hábito comum para a manipulação das pessoas. 

ARENDT, Hannah. A Condição Humana. Rio de Janeiro: Forense, 1991.

Tropicália





A Tropicália foi uma expressão colhida de um projeto ambiental do arquiteto Hélio Oiticica na exposição “Nova Objetividade Brasileira”, exposta no MAM no Rio de Janeiro, em 1967 – a qual caracterizava um estado da arte do Brasil de vanguarda, confrontando-o com os grandes movimentos artísticos mundiais em busca de uma estética puramente brasileira. O conceito de Tropicália evidenciava a necessidade de representar um estado brasileiro como elemento importante na cultura nacional.

A exposição relacionava o contexto das vanguardas da época e as diversas manifestações da arte. Consistia num ambiente formado por duas tendas que o autor chamava de penetráveis. O cenário tropical era composto de areia, brita espalhada pelo chão, araras e vasos com plantas e uma espécie de labirinto que percorria a tenda principal, às escuras. Ao fundo, o público se deparava com um aparelho de televisão ligado, totalmente contra os padrões tradicionais da escultura e da pintura. Hélio construiu uma obra radical em que a vida e a arte consistiam num só elemento, afirmando o seguinte:
A Tropicália veio contribuir fortemente para essa objetivação de uma imagem brasileira total, para a derrubada do mito universalista da cultura brasileira, toda calcada na Europa e na América do Norte, num arianismo inadmissível aqui: na verdade quis eu com a Tropicália criar o mito da miscigenação – somos negros, índios, brancos, tudo ao mesmo tempo – nossa cultura nada tem a ver com a europeia, apesar de estar até hoje a ela submetida: só o negro e o índio não capitularam a ela. Quem não tiver consciência disso que caia fora. Para a criação de uma verdadeira cultura brasileira, característica e forte, expressiva ao menos, essa herança maldita europeia e americana terá de ser absorvida, antropofagicamente, pela negra e índia da nossa terra, que na verdade são as únicas significativas, pois a maioria dos produtos da arte brasileira é híbrida, intelectualizada ao extremo, vazia de um significado próprio. (...) É a definitiva derrubada da cultura universalista entre nós; da intelectualidade que predomina sobre a criatividade – é a proposição da liberdade máxima individual como meio único capaz de vencer essa estrutura de domínio e consumo cultural alienado. (...)

O mito da tropicalidade é muito mais do que araras e bananeiras: é a consciência de um não condicionamento às estruturas estabelecidas, portanto altamente revolucionário na sua totalidade. Qualquer conformismo, seja intelectual, social, existencial, escapa à sua ideia principal. Por meio de suas experiências com o samba, com os morros e com as favelas cariocas, principalmente da arquitetura dos grandes centros urbanos, a arte das ruas, das coisas inacabadas, dos terrenos baldios, surgiu uma de suas maiores invenções: os Parangolés – criados artesanalmente com telas, panos, plásticos, materiais pintados, a princípio, em formato de estandartes, bandeiras e tendas. Depois, alguns desses materiais ganharam formas de grandes capas, para serem vestidas. Algo semelhante às fantasias, às roupas e às esculturas móveis que propiciaram uma espécie de campo experimental. Os Parangolés exploraram uma nova relação com o espaço e evidenciaram a participação do espectador na obra.

Entre as obras mais significativas que influenciaram o movimento tropicalista estão: A Tropicália e o estandarte: Seja Marginal, seja herói. A primeira emprestou seu nome a canção composta por Caetano Veloso, por sugestão do cineasta Luis Carlos Barreto e para denominar o próprio movimento tropicalista. A segunda foi uma homenagem à Cara de Cavalo – famoso marginal carioca morto pela polícia – compôs o cenário dos shows onde Caetano, Gil e os Mutantes realizaram na boate Sucata, no Rio de Janeiro em 1968 e acabou servindo como pretexto político para suspensão da temporada pelas autoridades. O tropicalismo significou a saída para um impasse surgido com mais uma volta às “fontes de nacionalidade”, intensificando o protesto contra o subdesenvolvimento, o internacionalismo artístico “decadente burguês”. Tal fato levou os tropicalistas a tornarem a linguagem da música popular mais universal; transformaram o cenário político da época, contra a apatia predominante, o marasmo nacional através dos elementos que a cultura possuía de mais forte: a arte, a poesia, a música e o teatro. E assim afirmou Gilberto Gil:
(...) Na música pop, os Beatles passam a utilizar todos os tipos de música e de instrumentação eruditas que não pertenciam ao que chamavam iê-iê-iê. Estão evoluindo sempre, enquanto no Brasil a própria música chamada jovem se torna conservadora. E na música popular brasileira o conservadorismo é muito pior. Se pensássemos sempre assim, estaríamos tocando nossas músicas com instrumentos indígenas. É preciso pensar em termos universais. O mundo hoje é muito pequeno, não há razões para regionalismos (...)

Nessa produção cultural engajada, o teatro foi o principal setor a se reorganizar após o golpe militar de 64 e a reaver a atuação política. No mesmo ano, em que Gilberto Gil e Caetano Veloso movimentaram a MPB, o grupo de teatro Oficina, dirigido por José Celso Martinez – constituindo um novo caminho para a arte teatral brasileira, até então representada pelo “teatrão” do TBC (Teatro Brasileiro de Comédias) e pelo trabalho do recém-criado Teatro de Arena (onde Augusto Boal, Oduvaldo Vianna Filho e Gianfrancesco Guarnieri realizavam montagens de caráter político). Rompia-se com a estética do teatro clássico. O Oficina desenvolveu um estilo de “provocação cruel”, tentou atingir ao público por meio da investigação agressiva.

Os padrões do “bom comportamento” e do “bom gosto” deram lugar à arte suja, nem sempre acolhida pela cultura tradicional. A relação do teatro e o Tropicalismo se estabeleceu através da encenação da peça o Rei da Vela de Oswald de Andrade, em 1967. O projeto tropicalista afinava-se com a aspiração e a influência da poesia concreta que resgatou propostas que percorriam difusamente os movimentos de vanguarda, em particular, o futurismo e o dadaísmo. O aspecto experimental do espetáculo reuniu feições circenses, a chanchada, o deboche, o sexo e a pornografia promovendo em uma parte do público, fascínio; e em outra, revolta, ao inaugurar o teatro de tons agressivos. Tal estratégia, adotada, por José Celso, para romper o efeito alucinógeno no qual o público de classe média se encontrava. Caetano identificou-se com as cenas do espetáculo, percebendo o surgimento de algo novo no panorama artístico-cultural do Brasil.

[pesquisa Ricardo Janoário]
De repente a palavra tropicália começa a ficar superbadalada. Por um lado isso é até cômodo, porque facilita um bocado a linguagem do dia-a-dia, eliminando uma série de substantivos e adjetivos. TROPICALIA passa a definir tudo: exuberância, cafonice, aparatos coloridos e apoteóticos, flores, frutas, selva e sabe-se lá mais o quê. Por outro lado a coisa toma um certo ar de bagunça, desgastando-se sem ao menos ter-se tomado conhecimento de seu verdadeiro sentido. O termo foi criado por Hélio Oiticica (“sobre quem “o crítico inglês Guy Brett, na Bienal de Paris, se referiu dizendo:” A sensibilidade de Oiticica poderá afetar fortemente a arte americana e européia”), para designar sua obra apresentada no MAN, na exposição Nova Objetividade Brasileira, em abril de 1967. Acrescenta-se ainda que nova objetividade, parangolé (empregado para designar uma criação plástica), arte supra-sensorial, foram termos também criados por Oiticica. Por coincidência, mesmo, Caetano Veloso (ele não conhecia Hélio, nem seu trabalho) lançou em seu último LP uma composição sua, nova, com o título TROPICÀLIA. A ideia de uma e outra estão bem entrosadas, em perfeita sintonia. Colhemos hoje um depoimento de Hélio Oiticica sobre a sua TROPICÁLIA:
Quando criei a minha obra-ambiente TROPICÁLIA(1966-67), duas coisas queria, de modo objetivo: uma era sintetizar tudo o que vinha fazendo há tempos no sentido se uma arte-ambiental(ou antiarte, como queiram), outra era marcar, com o conceito de tropicália, um novo modo objetivo de caracterizar certos elementos na manifestação atual da arte brasileira, que se possam erguer como figura autônoma, não-cosmopolita, opondo-se num novo modo ao Op e Pop internacionais (ver entrevistas no Jornal do Comércio, 21-5-67 e 16-7-67).
Só quando formulei a ideia de Parangolé, em 1964, embocava nesse sentido conscientemente-TROPICÁLIA seria uma síntese de várias tendências por mim abarcadas: participação do espectador na obra, proposições ambientais-sensoriais, antitecnologia são(notar que essas obras são quase que artesanais, feitas à mão, como as capas-protesto que enviei para a Bienal de Paris, em esteiras, aniagem etc.).
Como cheguei a isso é uma longa historia: a descoberta no morro da favela carioca, do bas-fond do Rio e a minha iniciação no samba como passista da Mangueira- foi tudo um processo de anos para cá, propositalmente anti-intelectual. Enquanto muitos sonham com Paris, Londres, Nova York, etc., eu me dedico há anos ao que chamo de “volta ao mito”- com isso longe de ser uma atitude intelectual, abstrata, foi uma experiência decisiva no contexto da cultura brasileira-, a descoberta de forças expressivas latentes nesse contexto: não acredito numa arte cosmopolita (característica mais encontrada aqui)- para ser universal só desenvolvendo nossa própria capacidade expressiva: a dança, o rito, todas as manifestações populares (Pangarolé era a busca dessa origem), o tropicalismo brasileiro, as festas coletivas etc. Nossa pobre cultura universalista, baseada na europeia e americana, deveria voltar-se para si mesma, procurar seu sentido próprio, voltar a pisar no chão, a fazer com a mão, voltar-se para o negro e o índio, à mestiçagem: chega de arianismo cultural no Brasil!

[fonte: Marisa Alvarez Lima, Marginália, arte e cultura na idade da pedrada. Rio de Janeiro: Aeroplano, 2002]

VIVA O CHACRINHA!


Existem argumentos a serem invocados para discutir-se o que seja cultura, não definições: a cultura como uma totalidade definindo-se como cultura. Quando Caetano diz ser o Chacrinha muito mais cultura que Flávio Cavalcanti, tem-se aí um ponto de vista fundamental para essa discussão. “O conceito de Caetano coincide com o meu, segundo o qual o grande erro é querer-se transformar a cultura, nas suas manifestações, em algo “bem comportado”, bonito”, digno dos lares burgueses com seus preconceitos do que seja bom ou mau, etc. Desde cedo aprendi uma coisa importantíssima: nas manifestações da criação humana tudo vale principalmente o que violente nosso bem estar conformista.
Quando vi Klee pela primeira vez me irritei: algo mudara em mim; mas esse algo cresceu, objetivou-se e o próprio Klee me ensinou a desconsiderar completamente o que chamamos de bom e de mau gosto:em arte isso não existe, o que existe é a imaginação criadora de cada indivíduo, que não deve nem pode parar. Antigamente eu não dava a menor importância ao programa do Chacrinha gostava mas não ligava muito.De repente, foi-se tornando para mim importante, interessei-me em ver sempre que possível o seu programa: algo é sempre acrescentado a cada um, como elemento criador.
É uma manifestação espontânea sempre dinamicamente improvisada, de um estado criador. Por que “então os chamados “cultos” e “sérios” da nossa cultura vivem a dizer:” loucura! Burrice! Retrato do Brasil subdesenvolvido”, etc.? Na verdade, o retrato negativo dessa cultura brasileira são eles mesmos, com essa eterna mania universalista e acadêmica de serem europeus ou americanos. Pois eu sei que sou inteligente e criador, e digo: alimenta-me muito mais o programa do Chacrinha que os milhares de artiguetes literários ou exposiçõezinhas de arte que há por aí.
Os meus Parangolés pode ser mais facilmente apreendidos num contexto como o do programa do Chacrinha ou a quadra da Escola de Samba da Mangueira do que numa galeria de arte. Uma coisa é viva: o programa do Chacrinha; as outras são paliativos impostos por uma burguesia agonizante para impingir o seu status à coletividade, seu gosto e sua moral agonizantes e improdutivos. Daí então vem Flávio Cavalcanti condenar, por exemplo, a música caipira:”Isso é ruim”, esperneia ele;”ouça Marcos Valle, isto é bom!”. E por aí vai, como se o fenômeno criador fosse algo controlado segundo um padrão de gosto, de bem e de mal, e outros cacoetes burgueses e intelectualóides. Há algum tempo não ouvia os discos de Ângela Maria. Deu-me repentina vontade de ouvi-los. Achei-os mais belos do que nunca. Ângela é realmente genial, integra, total, quando canta vive. Pois criaram aí o mito de que Ângela Maria é cafona, ruim, é submúsica, etc., conceitos que não existem.
Essas pessoas são as mesmas que outrora condenavam tudo de bom: hoje continuam do mesmo modo. Por quê? Obra de quem escolhe ou diz isso é bom, aquilo é ruim: os criticóides, a burrice entronizada em alguns jornais e revistas, e os grupinhos semi-intelectualizados da classe média- os burgueses que acham a dama do high society elegantíssima( para mim ela é que de uma cafonice exemplar). Mas, dentro desse contexto, existem exceções, como Maria Bethânia, por exemplo, com toda sua personalidade de grande cantora e sua inteligência lúcida: ela não hesitou em repor Ângela Maria. É impossível que as vivencias que tenho sejam falsas, pensava eu outro dia. Por que é que se fecham as pessoas em conceitos? Adoro os Beatles ou Roberto Carlos, Chico Buarque ou Caetano, Clementina ou Cartola, Luís Gonzaga ou Billy Holliday, Mangueira ou Portela.O difícil é ser total -é preciso para ser criador, ser aberto.

[fonte: Marisa Alvarez Lima, Marginália, arte e cultura na idade da pedrada. Rio de Janeiro: Aeroplano, 2002]

O ser antigo





O ser antigo

Num tribunal de cores escuras, o meu julgamento é certo
Num tribunal de cores escuras, sobra de mim o resto
Não sou moderno, quero ser antigo, me passo em 67
Estou vendo Nara agora, ela canta a Estrada e o Violeiro
Sou um verme, não vou a raves (ainda existem?) nem gosto de pircings
Para mim um  simples brinco na orelha (esquerda) já foi um desafio!
Pra onde vamos, que metodologia higtec impera nesses corpos pálidos
Noites a fio fingindo uma vida de um glamour visto na seção da tarde
Não, não , não. Recuso-me
Esse foi o meu pecado
Ser eu mesmo, não me permitir fingir
Não seguir o modelo imposto pelo último filme  que passou na tv a cabo
Alias, odeio televisão, não escuto rádio e para mim...
Chico, e os baianos (antigos) são mais que suficientes
Vamos tentar usar menos preto
Que tal uma cor mais clara
Faz muito calor aqui no norte
Que tal viver a nossa realidade sem se pintar de preto
Certa vez eu conheci um cara que gostava de rock
Rock pesado mesmo
Mas, ele  queria que sua mulher fosse um protótipo de mulher de pagodeiro
Cega, surda e muda...
É isso que somos? É isso que queremos e vivemos?
Uma invenção de uma realidade que não é nossa
Realidade essa que se fragmenta dia a dia
Eu digo não ao futuro
E glorifico o passado
Que me faz o mais moderno
De todos os seres
Cláudio de Moraes

A melhor mentira...





Teus olhos, tua boca, tua pele, teu cheiro, teu suor, teu contato... Tudo mentira...
Teu calor, teus dentes, teus humores, teus sabores, teu riso, tuas sensações, teu prazer, teu fazer... Tudo mentira...
Tua chegada, tua partida, tua emoção, teu desejo, teu corpo, teu tesão, teu divertimento... Tudo mentira...
Tua verdade, tua decisão, tua reflexão, tua nobreza, teus gestos, tuas ações... Tudo mentira...
Teu sexo, teu gosto, teu tempo, tua voz, tua certeza, tuas palavras, tuas secreções,... Tudo mentira...
Teu encaixe, teu tudo, teu carinho, teus beijos, teus olhares, tuas mentiras... Tudo mentira...
Meu coração, minha alma, minha vida, meu acreditar, meu querer, minha paixão... Era tudo verdade.

Cláudio de Moraes

Hebe Camargo, Brasil, doença e modernismo acéfalo


Em qualquer lugar do mundo uma pessoa com cinquenta e sete anos de televisão seria ovacionada e coberta de homenagens, mas Hebe não! Não se engane; as honrarias e homenagens que Hebe recebe, vêm de parte da imprensa que é considerada menor e a classe artística que patina, digamos em um nível popular.
Os intelectuais que, com razão, Dercy Gonçalves chamava de “o câncer do Brasil” e os modernóides de plantão a consideram: velha, ridícula, brega... Se não burra de tudo! Mas, por quê? Hebe representa o Brasil, um Brasil ingênuo, que senta no sofá há mais de cinquenta anos para acompanhar os seus rompantes de indignação com os desmandos do nosso país e esse povo se identifica com ela. Às pessoas adoram seus ataques de tietagem com ídolos populares e seu estilo brega, colorido e Tropicalista! E o que falar de suas joias então?  
Mas, Hebe teve bons momentos na TV. Vamos a eles: Protagonizou o primeiro vídeo clipe ao lado do falecido Ivon Curi, entrevistou Neil Armstrong e protagonizou momentos impagáveis da TV brasileira quando num arroubo de ousadia fez um programa inteiro sobre travestis! Coisa que no final da década de 1980, dava o que falar (até cadeia) e chocou a sociedade, tendo o programa sua fita apreendida pelo então, ainda ativo departamento de censura (o programa foi em 1987).
Também a homenagem aos oitenta anos de Dercy Gonçalves teve a fita apreendida devido a um seio de fora da sempre ousada veterana atriz.
 Hebe teve atos que foram pouco comentados e que comovem: doou sangue a Dercy Gonçalves quando a mesma se operou de câncer! Dercy disse uma vez “Hebe não precisava fazer isso, mas fez”.
Hebe hoje está doente e demonstra uma dignidade absolutamente admirável no trato com sua enfermidade e sua fé merece respeito do que creem e que não creem, por isso termino esse rascunho pífio desejando a você Hebe... Muita luz e muita força e obrigado por seus anos de dedicação a entreter o nosso alegre, mas triste povo brasileiro.